"Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor: apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um[a mulher inundada] de sentimentos." (OM)

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Licenciando, licencianda

Nos dias em que eu, 'licencianda', chego ao colégio pro estágio e encontro com uma professora de matemática, as perguntas dela são sempre as mesmas: 
"Você quer se tornar professora? Tem certeza que você quer se tornar professora? Pra quê você quer se tornar professora?".
E essas perguntas ficam rodando na minha cabeça. E outras tantas surgem...
Como eu posso ser tão pretensiosa a ponto de, entre os meus tantos anseios, querer me tornar algo como um dos meus heróis? Como posso eu ter a audácia de refletir sobre seus pontos fortes e fracos e pensar em novas maneiras de se realizar esse ofício delicado de educar? A verdade é que eu não sei se posso, nem sei se vai dar certo. Desejos podem ser só desejos.
Se descobrir a própria identidade como sujeito é algo que requer tempo, cuidado, dedicação e introspecção, e ainda uma vivência que leva uma vida toda; descobrir a própria identidade como professor, aquele herói que se incumbe de mediar a autodescoberta e o desenvolvimento de um outro indivíduo, que pode exercer um papel tão marcante a ponto de mudar toda a existência de alguém, é algo que exige um altruísmo, essa tal doação de si e ainda uma firmeza em abrir trilhas e horizontes para outros tamanho que faz deste um fazer para raros. "Só para raros", e para ainda mais raros se pensarmos na atual falta de reconhecimento e espaço que os professores ocupam em nossa sociedade (embora, se questionados, cada um possa confessar ao menos um professor que lhe mudou a vida).
No momento em que eu me encontro a uma semana de fazer minha primeira tentativa de sê-lo, talvez frustrada porque sei que o erro certamente aparecerá muitas vezes antes que eu acerte em algum ponto, a insegurança me invade toda por dentro. Eu muito mal sou eu, como fazer um outro ser a si próprio?
Penso. Penso. Não me sinto heroína, nunca fui, não sou, não tenho de fato nenhuma pretensão de ser tal, e tenho plena consciência de que nunca serei.
Mas há algo em cada professor em exercício que é intrínseco: a tal da esperança - essa chama inapagável (ainda que em determinadas situações seja quase impossível mantê-la acesa). Professor é uma profissão que não faz sentido se não houver nem um fio de esperança. E essa esperança é a única coisa que me resta, que me aproxima. Esperança de poder ajudar em algo em algum momento, ainda que de maneira torta e sem jeito, nas trilhas de alguém.
E então, com todo medo por estar muito muito longe de tudo o que meus professores representaram para mim e com muita gratidão à eles, eu digo que sim - entre outras coisas, gostaria de me tornar uma educadora. Mas só porque eu guardo dentro de mim como chama inapagável essa tal esperança que eles se incumbiram de acender e de manter acesa em mim.


16.10.14