"Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor: apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um[a mulher inundada] de sentimentos." (OM)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Resposta ao eu-lírico masculino


E tu, num instante
Transformaras de menino a homem
E eu de mulher a menina acuada

Teu corpo viril e teu olhar flamejante
Diziam-me que poderias ser
O herói ou o grande vilão
De nossa pequena história

Vieste com o negro da noite
Tomar-me por terras desconhecidas

Teus braços fortes
Seguravam-me
Ora como protetor
Ora como assassino letal
Por entre a cavalgada
Em nossos secretos jardins

Enquanto teu lânguido falo
Falava-me
Do efêmero e do divinal

E no cheiro de pólen
Disperso pelo ambiente floral
Plantaste férteis sementes
Nas profundezas de minha terra

Arrancaste-me um suspiro
Que eu já não podia viver
Naquele conto de fadas

Nunca saberei se foi suicídio
Morte morrida, bala perdida
Doloso ou culposo homicídio

Mas por te amar
A morte foi fatal

terça-feira, 13 de abril de 2010

Néctar das Flores



Pela flor rósea
Esbaldaram-se vários beija-florex
Beberam-lhe o mel
O néctar dos amorex

Pólen eles trouxeram
Os bicos sugadorex
Que as flores emanaram
Com suas múltiplas corex

Mas só o real condutor
Soube da escolha certa
Buscou pelo odor
A abertura correta

Gerou no gineceu
Pelo fruto proibido
As sementes dela e do seu
Calor pra sempre provido

domingo, 4 de abril de 2010

...

Amor e Deus não existem, são invenções do homem. O telefone, a internet e o cortador de unhas também.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Assassina


Era uma dessas tardes de outono quando se tem frescor e um vento carregando as folhas secas. Trazia nas mãos o frio e no peito um tremor incerto. Não tinha a certeza do que iria fazer, mas algo em si movia-se lentamente na fração de segundo anterior que seu corpo cansado dava os passos. A mente estava ocupada por um vazio atônito ao que a face demonstrava apenas um leve enrugar por entre as sobrancelhas.
Era assim que tinha que ser.
Chegou à praça semi-deserta e lá estava ele: sentado de capa por entre as folhagens, apoiado na árvore. Trazia nas mãos o bater impaciente que guardava dentro do bolso. O horizonte era atravessado por seu olhar.
- Uma hora e meia.
Ela nada respondeu. Não havia do que se desculpar. Olhou para a copa da árvore, respirou fundo e agiu.
Assassina.
Assassina.
Assas...
Repetia a si mesma. Havia matado seu amor. E este por sua vez não teve velório, enterro ou lágrimas. As flores já estavam secas porque era outono. Não deixou pertences ou tantas lembranças. Foi como se desintegrasse no ar.
Apenas deixou saudades vazias.