"Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor: apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um[a mulher inundada] de sentimentos." (OM)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Menina-dos-óculos


A menina por trás dos óculos vê um mundo embaçado,
desagradável ao olhar alheio.
Um mundo onde o jeito é mais bonito que a forma,
E o frescor do toque é mais agradável que os modos.

A menina-dos-óculos não gosta de tê-los
e o mundo perfeito a faz enxergar os defeitos.
Eles lhe escondem o rosto a face os olhos o mundo,
tornando-a algo a quem ser não deseja
(é comum o redor mudar gente e o vento as pedras).

E covarde, atira-se na caixinha do mundo perfeito
cheio de defeitos.

Mas: muito embora os óculos lhe mudem os olhos e a face,
o jeito e o embaralhar da imagem
e façam ainda as cores pararem de se misturar
tirando-lhe o arco-íris e o frescor

Quem vê o mundo diferente, timidamente
Trará sempre o mesmo olhar:
Com óculos, sem óculos...
Não há nada a fazer, nada se pode mudar.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Paulista.

A Paulista é quase uma floresta cinza pra mim. Percorrer aquelas trilhas de pedras, me embrenhar por caminhos culturais, por novidades antigas... Me alimentar de letras, livros, filmes cult, peças, músicas, histórias, pessoas de todos os tipos e jeitos. Explorar meu lado 'cientista de gente', reparar na beleza de casarões, de delícias, de paredes descascadas, de caretas e sorrisos. Manhã, tarde, noite e madrugada se instalando ali de maneiras tão diferentes... Descobrir um Dom Casmurro em inglês, com comentários do NewYorkTimes, coração palpitando! Cortinas de cores e rasgos diferentes, línguas e cheiros... Essa necessidade de florestas que eu tenho: as verdes e as cinzas, desbravando e me deliciando ao lado do melhor 'companheiro de aventuras' do mundo! Ah...!

terça-feira, 17 de abril de 2012

Magicamente


O amor em histórias de livros, filmes, peças é admiravelmente lindo. No entanto, não é lá que encontramos as verdadeiras histórias de amor. Histórias de amor de verdade existem no dia-a-dia quando se percebe um casal de velhinhos juntos desde muito jovens, um casal de moradores de rua capaz de parar pra se abraçar, beijar e fazer cafuné, mesmo diante de uma realidade tão brutal. O amor entre alguns casais que a gente convive, que se divertem com as coisas mais simples da vida. O amor de alguns, que renasce de lágrimas a cada período conturbado que passam. O amor que acontece quando, mesmo sabendo que se ama aquela pessoa, apaixona-se por ela a cada novo encontro, tentando conservar durante uns longos segundos o olhar em cada traço, em cada gesto que surge subitamente como se fosse a primeira vez que tal pessoa lhe aparece pela frente, antes que outros gestos ainda melhores interrompam urgentemente essa doce admiração do ser amado. Dizendo-se a si mesma “Olha esse cara na minha frente. Como ele é lindo... e incrível. E ele é o meu amor, mal posso acreditar que sou o amor dele também. Eu nem lembrava o quanto eu o amava... Quer dizer, eu lembro que eu o amo, e muito. Mas não lembrava o quão mágico é esse muito”.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Esse barulho mudo

Vidros quebrados, cortinas rasgadas
Restos de comida pré-comidos pelos ratos.
Tudo varrido, tudo aspirado

(narinas podem ser bem largas quando há falta de ar...)

Pedaços de parede e pó
O bater de uma reconstrução
(reconstrução?)
Não concluída, e sem prazo pra terminar.

O suor de milhares de trabalhadores
e o sorriso triste (sim, triste!)
dos que deveriam, mas preferem cuecas

Toda essa estrutura mal-construída
Que quando tenta se organizar
Não suporta a entropia.

Parados! Calados todos!

Apenas eu...
Barulhos mudos dentro da minha cabeça
e gritos de terror
por perto, e por todas as partes do mundo

“But I’m not the only one.”