"Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor: apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um[a mulher inundada] de sentimentos." (OM)

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Este tempo-espaço



Não me reconheço neste tempo-espaço
Sou deslocada deste algo
Que sem saber convencionaram
Para de nada adiantar

Não me reconheço neste tempo-espaço
Porque minha velocidade não é constante
E se distingue do ritmo
Das moléculas irmãs

Me perco neste tempo-espaço
E só me encontro nos pedaços de templo
Nas vias de imaginação
Ou nos momentos onde a matéria se liberta

Me perco neste tempo-espaço
E meus templos são os palcos de luz
Ou a luz de um túnel arfável
Entre braços quentes ou abraços apertados

Não me encontro neste tempo-espaço
E vivo na infinita busca de algo que não sei o que é
Mas que daqui não faz parte
Porque minha velocidade é inconstante

Não me encontro neste tempo-espaço
E tento entender este mundo
- inteligível -
Ou tento achar o caminho
Para este outro infinito

Não sou deste tempo-espaço
Mas amo cada partícula
Que dentro do mesmo meio
Estabeleceu seu leve contato comigo

Não sou deste tempo-espaço
Não reconheço pessoa, hora ou lugar
Sou a adaptação metamórfica de um estranho ser
Num ilógico lugar.

Tati Valença, set/2009

sábado, 1 de maio de 2010

Palavras Apenas



Acho que não se deve ter medo das palavras. De fato elas podem ter um peso muito grande, uma profundidade feito um abismo, a expansão de um universo, mil traços de possíveis visões. Mas ela é uma extensão do pensamento ou do sentimento, quase como concretizar os fluidos invisíveis do mundo. Sim, palavra é a concretude como um tijolo jogado na mão de alguém. O problema não está em quem a profere, quem joga o tijolo, mas em como o tijolo é recebido. O receptor tem de estar preparado para recebê-lo, com sua bagagem de experiências e com as mãos postas e atentas a pegá-lo, caso contrário, o tijolo cai e quebra em mil pedacinhos, formando um mosaico de possíveis interpretações. E este pedreiro receptor, escolhe um deles para encaixar e construir uma casa deformada. A maior parte das pessoas deforma as palavras de quem profere por não saber o contexto em que se encaixam.
Eu não tenho medo das palavras, digo e prezo minha liberdade de dizê-las. Às vezes penso que não deveria ter dito uma ou outra, e por mais estranho que pareça, a maior parte das que eu duvido se deveriam ser ditas, ou não, são as doces e não as amargas. Mas prefiro duvidar das que eu disse do que deixar algumas por não dizer. O mundo tem que saber das coisas.
Digo mesmo, e digo com coragem e sem cautela, porque é tudo o que eu penso e sinto, é tudo o que é mutável, transcendente, e ainda digo por cima do que eu disse desdizendo tudo. Hipócrita é aquele que não diz o que pensa ou sente, porque as palavras feias e sujas dele ainda estão ali caladas. Covardemente.

Depois da ressaca do mar


O que me falta é confiança: Em mim e no mundo. O mundo continua desconcertado, mas com confiança ele fica pelo menos um desconcerto organizado. E tudo fica mais passível de se resolver.

Um de maio de dois mil e dez.

Tristeza


A tristeza é o comburente mais potente que existe. Quando uma faísca, mesmo que ínfima, desperta sua chama, não há água que apague - ela sempre renasce do pouco que restou. Não há vento que amenize - um sopro e ela aumenta o tamanho de sua fúria. É preciso deixá-la consumir até o final, até que restem somente as cinzas, somente o pó das lembranças e mais nada.

Vinte e nove de abril de dois mil e dez.