"Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor: apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um[a mulher inundada] de sentimentos." (OM)

domingo, 28 de março de 2010

Brigadeiro (poema concreto)


Brigadeiro
B - rigadeiro
Br - i - gadeiro
Briga - de - iro
Briga - de - ira
Briga - de - ir - a
Brigadeira

Brigadê - ira
Brigadê - iro

Brigadeiro = Lugar onde se briga.

Fight!

As duas grandes necessidades da vida


A ilusão do amor é como a ilusão de Deus...
No começo te falam que ele existe. Daí você idealiza o mito, sonha sua infância inteira com a grandiosidade de coisas que são metafísicas. Sente-se sozinho e descobre que necessita dessas coisas as quais você não sabe explicar, e as define por Deus ou amor.
Você evolui, e a vontade de buscar as coisas metafísicas cresce com você. Você entende agora que essas coisas já não fazem mais sentido, e busca um sentido pra esse algo, pra que preencha essa desesperança que te invade.
Você encontra alguém que não te explica, mas te faz sentir o metafísico. Dá o nome disso de amor. E em certos períodos você sempre denomina isso como amor.
E você vive sua amadurecência inteira entre o lapso da razão e da esperança em crer em uma ou duas dessas coisas.
Você envelhece. E se antes descobriu a verdade, agora precisa redescobrir a mentira, para que a morte não se torne uma futura companheira assim tão insuportável...
A gente sabe que não, mas precisa explicar-se dessa maneira para que a vida não seja vista assim tão cruelmente, não seja assim tão dura.
Ou a pessoa acredita nas duas ilusões, ou pelo menos em uma delas, ou a vida se tornará amarga...

Afinal, como diz Caio Fernando Abreu...
“Os homens precisam da ilusão do amor da mesma forma que precisam da ilusão de Deus”

quarta-feira, 24 de março de 2010

O meu eu

Sim, eu sou introspectiva. Quem me vê assim jamais imagina principalmente duas coisas: A primeira é que (acredite ou não!) eu já fui muito mais extrovertida que a pessoa mais extrovertida que você já conheceu; a segunda é que eu sou muito mais liberal do que o amigo mais “brisado” que você tem.
O fato é que eu sou de diferentes formas, jeitos, personalidades. Mas isso não é assim sem lógica. O que acontece é que eu tenho o lado racional e o lado emocional ambos fortes, e eles então vivem uma briga interior da qual eu sou a vítima e a vilã.
Explico: meu lado racional é uma velha, só pisa em chão firme, é rebuscado, nostálgico, tem SEMPRE uma opinião e nunca a troca, tem alguns princípios em que acredita (e que são diferentes dos princípios de todas as outras pessoas, e são libertários também!) e os segue a risca, egoísta leve, inflexível, sistemático, decidido, insistente, e outras coisas mais.
Meu lado emocional é uma criança, totalmente impulsiva, simples, vive no mundo dos sonhos, nunca tem uma opinião certa, seus princípios são não ter princípios, muda a todo o momento, potentemente altruísta, desencanado, indeciso, flexível, mutável, ...
E nessas combinações eu sou de mil maneiras. O meu equilíbrio não é a metade de cada um, mas forma dois inteiros de si, o que o deixa desequilibrado. O meu equilíbrio não é metade, mas os dois opostos. Sou o sagrado e o profano, o anjo e o demônio, o bem e o mal, o sublime e o terreno, o dentro e o fora, a santa e a puta. Sou difícil de lidar e entender.
E por ser de diferentes formas, tenho vários pontos de vista, enxergo de outros ângulos que não os das pessoas comuns, e tenho facilidade em me colocar no lugar de qualquer outra pessoa/ser/coisa.
E as pessoas também me vêem de diferentes formas. Há quem diga que eu sou tímida, e há quem diga que não. Há quem diga que eu sou madura e mulher, e há quem diga que eu sou uma criança inocente e imatura. Há quem diga que eu sou um gênio e há quem diga que eu sou burra. Há quem diga que eu sou metida e há quem diga que eu sou absolutamente simples.
Esses dias uma das pessoas que mais me conhece me disse que às vezes acha que eu não sou/vivo nesse mundo. E na verdade é isso mesmo. Eu transito com facilidade por todos os lugares, do castelo mais alto a floresta mais obscura, e acabo por não me incluir em nenhum. Eu sou o tudo e o nada. Não sou daqui.
No entanto, se existe a tal missão, sei o que vim fazer aqui. Depois de anos de crise existencial, uma frase abriu minha mente “O ator não faz teatro para catequizar, mas para entender os seus questionamentos.” E era isso. A ciência e a arte: é assim que eu busco entender o lado racional e o lado emocional do mundo. Eu vim pra buscar, conhecer, entender, questionar.
As vezes eu tenho dificuldade em falar sobre mim e frequentemente sobre qualquer coisa que eu não tenha segurança. E as vezes eu tenho imensa facilidade em falar sobre mim e faço discursos imensos sobre o que eu tenho segurança. Mas eu tenho necessidade de comunicação, e quando não dá pra ser falada, ela é mil vezes mais escrita, mil vezes mais dita pelo olhar, gesto, expressa na minha face. Ou mesmo suspensa no ar, porque o que eu comunico às pessoas não chega a uma ínfima quantia do que eu penso.
As únicas coisas que permanecem são meu lado libertário e as minhas mudanças repentinas devido a essa eterna briga interior. Talvez a hora que alguém ler eu já tenha me arrependido de dizer coisas íntimas, talvez ninguém leia, e certamente ainda há muito mais o que eu gostaria de dizer. Uma frase resume tudo o que eu gostaria de dizer nesse momento:

Sou por fim uma contradição, um paradoxo de mim mesma.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Poema aos Não-Efêmeros

Amor é fogo que arde ao se ver,
Sem que se veja.
Amor é chama que apaga,
Sem que se espere.

E da queima, resta-lhe as cinzas
E permanecem as partículas mais íntimas
Para que, se houver,
Chegada a hora
Renasça a fênix, a doce fênix
Com suas asas longas

Sujas de cinzas.
Feitas de cinzas.
E das partículas que não se acabam.

(Ou até que novo pássaro aponte no horizonte.)

Mas a constituição de cinzas é inevitável.


Tati Valença

sexta-feira, 12 de março de 2010

Ah, o amor...

Dizem que, para se amar algo ou alguém, duas coisas são necessárias: A primeira é amar a si mesmo (diga-se: amar, e não idolatrar-se). A segunda é não depender da coisa amada, assim como um vício depende, porque para se viver um amor, os dois amores tem que se bastar.
Verdade ou mentira, esta é de fato a forma mais saudável de ter alguém ao seu lado. Mas para o amor não há formas ou fórmulas certas ou erradas. Há amor.
Quem inventar um dia um termômetro de sentimentos ficará rico, porque sentimento não se mede. Não há muito ou pouco. Ou se ama, ou não se ama. O resto é gostar, querer bem.
Mas errou quem disse que não se pode amar duas pessoas ao mesmo tempo. Um exemplo disso é que conseguimos amar os nossos pais e amigos sem que um amor interfira no outro.
O amor de amante (diga-se: ser que ama) acontece da mesma maneira. Há vários subtipos dele. A maioria dos tipos e minoria das ocorrências são aqueles inexplicáveis. Às vezes a gente ama e não sabe como, não sabe o porquê, não pode dizer o quanto. Às vezes a gente não sabe afirmar nem mesmo se é amor de verdade. Mas sentimos uma ligação profunda, um sentimento tão bonito, uma felicidade imensa só de pensar na pessoa. Existe esse sentir e pronto, é amor, por mais que não se admita, simplesmente é.
Mas o que difere o amor de todos os outros sentimentos é que, meio que contrariando Vinícius, ele não morre. E eu explico: quando a gente ama alguém, a partir do momento que se fala ou sinta verdadeiramente, não há como voltar atrás. É algo pra vida toda. Daí acaba a chama, o amor adormece, mas permanece ali guardado num cantinho, por mais escondido que esteja, ou por mais que tentemos enganar a nós mesmos. Pode-se sentir raiva, rancor, rejeição, culpa, ódio. Ele permanece.
Às vezes o mundo mudou tanto a pessoa que amávamos, que esta não existe mais, então o amor de amante que fica é por um passado. Mas o amor é mutável, e como tal, você permanece amando a nova pessoa de um jeito diferente. Mas ainda assim continua amando.
É assim que se ama várias pessoas ao mesmo tempo, e é por isso que devemos tomar muito cuidado ao dizer uma palavra tão forte assim para alguém, porque AMOR, VIDA e ETERNO andam juntos.
Como diz Saint-Exupéry...
“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.” (Saint-Exupéry)

quinta-feira, 4 de março de 2010

Espelho de concreto




Do homem moderno, são
As enxurradas de pensamentos instantâneos
Onde, fixamente, nos crânios
Se mantém a principal canção

Alva línea corre na paisagem
Nasce o espelho de concreto
Que, do sangue celeste pelo objeto
Elucida com cores a imagem

Do ponto, cuido
Para que não fuja
Encontro, desencontro, mente suja
Paralisado fica, o mundo mudo

No revezamento segue
A linha desenhada a carvão
Perdem tristes, mudos que são
Os passos do movimento leve

Ganharam já outras corridas
Mas pode ganho ser perda também
Tristes ficam, por ser mútua a ninguém
A busca por outras vidas

Enche, na forte batida vital
De esperança, a cada a postos
É jogo de opostos
Que termina na parada sub-mortal

De ocorrer, não há suicídios
Ou homicídios intencionais
Porque gélido dizem os canais
Termômetros sensíveis, dos

Findam inundações da gota essencial
Nos olhos e no firmamento
Finda esperança, caminho, busca, pensamento
Só não finda o sentir, sem ti, sentimental

Da questão, a solução é pedido:
Se ajudam as vozes agudas,
Por que, das rosas
O mudo clamor não é ouvido?

Tati Valença,
um de março de dois mil e dez.