Incluir us cara
Inclusivi us paletó
Incubidus de tal papel
Incapazis de olhá pra fora
Ispirado é só no séu, no ceu
In agora?
Incara us cara, cara
Incara u cara, canalha
I cadê a casa, o carro
I cadê as coisa
Incitada nus discursu
I cadê a cumida
I cadê a tal educação, irmão
Ié qui a vida tá só o cão
Incabível essa tal situação
Incorruptível essis ladrão?
Incutido na po(L)vocultura
Incréu das jura
Mas continua:
(shiiiiu)
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
O dia em que a rosa olhou para a Lua

Ó céus, ó azar! - dizia a rosa
E a Lua tão formosa de longe a observar
Passava todas as noites
-Bom dia, botão de rosa!
E a rosa continuava a lamentar
-Ó vida, ó azar.
-Mas pra quê tanto lamento, pequena rosa,
o mundo é tão especial, basta olhar
-É que a volta só há espinhos,
mas agradeço por se preocupar.
Duendes, criaturas mágicas e outros seres
viviam a sussurrar
-Olha que Lua linda, botão de rosa!
por que não se por a cantar?
-Eu gosto da Lua,
mas queria tanto mais a mar!
-Olha pro rosto da água, pequeno flor,
lá tu encontras o tal mar.
-Não, esta água é doce,
não há nela mar, ó azar!
Foi então que a primavera chegada
trouxe chuva de luar
E a rosa, embriagada
Experimentou a Lua a cortejar:
-Gosta de chuva, botão de rosa?
-Chuva é boa, mas chove aqui dentro também
afinal, nunca irei encontrar alguém?
Passarinho passava por ali
decidiu aconselhar e ouvir
-Olha pro lado, botão de rosa
o que tu procuras não está aí?
-Não, amiga bondosa
tudo está longe de mim e de ti
E a rosa deixou de pensar
Sonhar, acreditar e sentir
-Boa noite, botão de rosa!
devo sair daqui?
-Não, fica, Lua formosa,
a noite é linda te olhando daqui!
-Pois olhes no lago, botão de rosa
que teu pago já deve vir
-Lago, pago, mago, sapo?
-Fecha o olho e sente a ti
Colhe a Lua, então, o botão de rosa
Desabrocha formosa, de leve sorri
-Fica pra sempre, Lua mimosa?
noite linda já não é sem ti!
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Rugido da vela

Imersos no escuro do templo, palavras iam e vinham em todas as direções. De onde o fogo beijara a vela outrora num intenso clarear de emoções, ele perguntou.
"Quem 'tá aí?" e ela...
"Eu."
Não sei que imã invisível agiu, não sei que fluido inebriante, que névoa instigante, que véu os enlaçou.
Ao início, o néctar. A procura certa de quem estava ao lado, sem saber que procurava.
O nariz encontra o pescoço, a boca encontra o rosto, e a face passeia suave ao encontro inesperado. A respiração cessa assustada, o coração pára sem compreender, enquanto elas se unem sem perceberem. Elas estão tão certas de si que consomem o corpo com o mesmo ímpeto das velas de outrora. Boca e boca.
Um pingo miúdo e intenso de luz que ruge ao explodir.
Um olhar. "Te amo". Um susto.
O eu-te-amo mais curto e mais sincero que já se deu no mundo. Não houve medida.Não houve querer posterior.
domingo, 5 de setembro de 2010
Momentos
Assim como num filme de cinema
Você falou, e eu não acreditei
E te olhei, e vibrei
E fui correndo pros seus braços
Pulei e já não via mais nada
Apenas seus olhos verdes
Como um mar calmo
Você abaixou a cabeça
Como um bichinho manso
Que precisa de carinho
Um sorriso singelo e sincero
Meio envergonhado talvez
Não era um simples abraço
Nossas almas se entrelaçavam
Nossos olhos cintilavam
Éramos como dois rios
Um verde e um azul
Que finalmente se encontravam
Depois de um longo percurso
E se juntavam fervorosamente
De tanta felicidade por algum motivo
E eu girava, girava e não pensava em mais nada
Não era a chuva que caía
Mas estávamos dentro dela
Minhas pernas tremiam sozinhas
Não havia beijo pra selar
Nem um amor sensual a dar
Haviam apenas duas almas
Que depois de se olharem através dos olhos
Viam o quão bela podia ser uma amizade
Um amor de amigo
Mútuo e sem maldade
Tão intenso que eu podia jurar
Que duraria pela eternidade
Talvez a amizade até se perca
Pelo contato distante
Mas aquele momento era eterno
Onde um precisava
Da ajuda do outro
Como os pés que precisam da cabeça
Para os guiarem
2006
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Campos Distantes

Eu te colho a cada dia
Como se colhe a flor dos campos...
Na aurora ainda adormecida
Ressoa o perfume do verde manto
E na elipse de lucidez
Vai a figura formando
A cada rutilar do vento,
A cada rugir do pensamento,
Teu nome tem gosto
Teu jeito, canto
Na confusão do doce timbre
Não querer que eu adivinhe
Querer dizer-te me leva,
Me enleva à doce quimera!
Mesmo diante da ausente face
Ainda que sem ti, presente faz-se
Esse efêmero sorrir
Tati Valença
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Apocalíptica Mente

Enoja-te a hipérbole de meus atos
Como se corroesse de veneno tuas entranhas
Como fosse eu bicho de outro regaço
Fosse peso demais a tua balança
Confesso sofrer sim de crônico exagero
Que causa o mundo vil à sensibilidade
Quantos foram assim na flor da idade!
Apenas permaneço inconstante inteiro
Que és tu, ó anestesiado?
Persistente sagaz do eufemismo
E ainda reclamas do meu cuidado...
Pois o mundo do mesmismo
Há de ficar deserto ao teu amparo
Há de ficar faltando pedaço
Foto: Nazif Topcuoglu
domingo, 27 de junho de 2010
Que tal?
Censuraram as verdades que eu digo. Mas há coisas que é preciso dizer.
Eu não tenho medo das palavras.
Não seja como a Lua que insiste em esconder periodicamente parte da face de seus sentimentos e angústias, que não diz o que pensa ou o que sente. Não seja hipócrita, porque esta face está lá o tempo todo.
As palavras, feias e sujas, estão lá, caladas. Covardemente
Existem coisas que precisam sair de dentro de você. Vamos lá, vomite todas elas. O vômito é amargo, não? É sujo, porco, feio. E tudo aquilo estava dentro de você. Fede. Fede e ninguém suporta, mas entende como é necessário?
Se não quiser mexer com estes pedaços regurgitados, palavras vindas e feitas de você, ao menos grite! Experimenta! Grita com a garganta, arranhando tudo por dentro. Usa o ar de seus pulmões e consome o do mundo a sua volta também.
Grita, porque o grito é a palavra em seu estado puro.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Teu caderno

“Eu só peço a você um favor, se puder, não me esqueça num canto qualquer.”
(Vinícius de Moraes)
Eu sou o teu caderno.
Um caderno de folhas alvíssimas em que preencheste com tua história.
Em mim, gravado em tinta preta, que não apaga, e em caligrafia torta, estão os teus segredos, às vezes borrados em gotas para que ninguém tome conhecimento; estão as tuas promessas, estas em letras garrafais; estão todos os teus planos pro futuro, vindos de um passado feliz e distante em experiências.
Um dia, pois, esquecestes teu caderno por aí.
Outros usaram. Tentaram escrever nele, mas só havia lápis. Jogado na rua, pisado em cima. Teu caderno sempre protegido em teus braços foi parar no meio do frio e da chuva, e teve que aprender na marra a agüentar as intempéries e tempestades.
Uns tentaram pegar o caderno e cuidar do caderno, entretanto, há nele o teu nome gravado e, sendo assim, te pertence e era novamente deixado de lado.
Há que se ocorrer um reencontro de papel para luz dos olhos do escritor, e há que se decidir o destino do teu caderno.
Ou continuas a escrever tua história com final feliz (ou outro final qualquer), ou arranca todas as folhas escritas por ti junto de teu nome. Caso contrário, este será apenas mais um caderno sujo, úmido e borrado, que só conhece histórias tristes.
Vinte e dois do seis de dois mil e dez, a R.C.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Direções.

Eu olhava pela janela quando algo curioso aconteceu. Um casal, um pequeno casal com brilho no olhar se despedia em frente ao trem. Um abraço apertado daqueles que tentam segurar o momento com as mãos, e os braços se afastando levemente durante eternos segundos, quando na iminência de se largarem, visto que ela não agiria por determinação, ele a puxou. Abraçaram-se. Beijou-a, de início um não, um quase sim, uma correspondência e finalmente um não. Era não, mas era um não ir embora também. Para ela, largar o passado era difícil, se desfazer das velhas histórias, dos velhos objetos, dos velhos sentimentos... Uma questão de sofrimento. Sentaram-se. Ele tentou, ela deixou. Deixou que beijasse seus lábios, seus olhos, sua face toda como nunca antes alguém beijara, nem mesmo ele. Deixou e não entendeu o porquê de tudo aquilo, já que antes era ela que o tinha feito sem um olhar sincero de retorno. Dois jovens cheios de defeitos. E daí? Acontece que o tempo passa, e este não perdoa. Vamos? Vou então. Não. Vou. Foi. Sem olhar pra trás foi. Aquele trem porém demorou mais que os outros. Destino? Talvez. Ela sempre acreditou em destino. Era tempo suficiente pra ela sair daquele vagão e dizer o sim, e fazer o sim - cinematográfico - com direito a aplausos dos presentes e rodopio sentimental. Mas de que adiantava se ele nunca acreditou em destino? O trem demorou ainda ali, tentando fazer com que um dos orgulhosos abrisse mão de alguma coisa que era pra acontecer, o trem tentou mais que os dois, e sem sucesso fez o barulho cotidiano e fechou as portas lentamente. Acabou. A minha história seria diferente se eu fosse aquela menina, mas aquela já não era mais a minha história, já não era mais o meu presente.
Foto: filme Slumdog Millionaire
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Este tempo-espaço

Não me reconheço neste tempo-espaço
Sou deslocada deste algo
Que sem saber convencionaram
Para de nada adiantar
Não me reconheço neste tempo-espaço
Porque minha velocidade não é constante
E se distingue do ritmo
Das moléculas irmãs
Me perco neste tempo-espaço
E só me encontro nos pedaços de templo
Nas vias de imaginação
Ou nos momentos onde a matéria se liberta
Me perco neste tempo-espaço
E meus templos são os palcos de luz
Ou a luz de um túnel arfável
Entre braços quentes ou abraços apertados
Não me encontro neste tempo-espaço
E vivo na infinita busca de algo que não sei o que é
Mas que daqui não faz parte
Porque minha velocidade é inconstante
Não me encontro neste tempo-espaço
E tento entender este mundo
- inteligível -
Ou tento achar o caminho
Para este outro infinito
Não sou deste tempo-espaço
Mas amo cada partícula
Que dentro do mesmo meio
Estabeleceu seu leve contato comigo
Não sou deste tempo-espaço
Não reconheço pessoa, hora ou lugar
Sou a adaptação metamórfica de um estranho ser
Num ilógico lugar.
Tati Valença, set/2009
sábado, 1 de maio de 2010
Palavras Apenas

Acho que não se deve ter medo das palavras. De fato elas podem ter um peso muito grande, uma profundidade feito um abismo, a expansão de um universo, mil traços de possíveis visões. Mas ela é uma extensão do pensamento ou do sentimento, quase como concretizar os fluidos invisíveis do mundo. Sim, palavra é a concretude como um tijolo jogado na mão de alguém. O problema não está em quem a profere, quem joga o tijolo, mas em como o tijolo é recebido. O receptor tem de estar preparado para recebê-lo, com sua bagagem de experiências e com as mãos postas e atentas a pegá-lo, caso contrário, o tijolo cai e quebra em mil pedacinhos, formando um mosaico de possíveis interpretações. E este pedreiro receptor, escolhe um deles para encaixar e construir uma casa deformada. A maior parte das pessoas deforma as palavras de quem profere por não saber o contexto em que se encaixam.
Eu não tenho medo das palavras, digo e prezo minha liberdade de dizê-las. Às vezes penso que não deveria ter dito uma ou outra, e por mais estranho que pareça, a maior parte das que eu duvido se deveriam ser ditas, ou não, são as doces e não as amargas. Mas prefiro duvidar das que eu disse do que deixar algumas por não dizer. O mundo tem que saber das coisas.
Digo mesmo, e digo com coragem e sem cautela, porque é tudo o que eu penso e sinto, é tudo o que é mutável, transcendente, e ainda digo por cima do que eu disse desdizendo tudo. Hipócrita é aquele que não diz o que pensa ou sente, porque as palavras feias e sujas dele ainda estão ali caladas. Covardemente.
Depois da ressaca do mar
Tristeza

A tristeza é o comburente mais potente que existe. Quando uma faísca, mesmo que ínfima, desperta sua chama, não há água que apague - ela sempre renasce do pouco que restou. Não há vento que amenize - um sopro e ela aumenta o tamanho de sua fúria. É preciso deixá-la consumir até o final, até que restem somente as cinzas, somente o pó das lembranças e mais nada.
Vinte e nove de abril de dois mil e dez.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Resposta ao eu-lírico masculino

E tu, num instante
Transformaras de menino a homem
E eu de mulher a menina acuada
Teu corpo viril e teu olhar flamejante
Diziam-me que poderias ser
O herói ou o grande vilão
De nossa pequena história
Vieste com o negro da noite
Tomar-me por terras desconhecidas
Teus braços fortes
Seguravam-me
Ora como protetor
Ora como assassino letal
Por entre a cavalgada
Em nossos secretos jardins
Enquanto teu lânguido falo
Falava-me
Do efêmero e do divinal
E no cheiro de pólen
Disperso pelo ambiente floral
Plantaste férteis sementes
Nas profundezas de minha terra
Arrancaste-me um suspiro
Que eu já não podia viver
Naquele conto de fadas
Nunca saberei se foi suicídio
Morte morrida, bala perdida
Doloso ou culposo homicídio
Mas por te amar
A morte foi fatal
terça-feira, 13 de abril de 2010
Néctar das Flores

Pela flor rósea
Esbaldaram-se vários beija-florex
Beberam-lhe o mel
O néctar dos amorex
Pólen eles trouxeram
Os bicos sugadorex
Que as flores emanaram
Com suas múltiplas corex
Mas só o real condutor
Soube da escolha certa
Buscou pelo odor
A abertura correta
Gerou no gineceu
Pelo fruto proibido
As sementes dela e do seu
Calor pra sempre provido
domingo, 4 de abril de 2010
...
Amor e Deus não existem, são invenções do homem. O telefone, a internet e o cortador de unhas também.
sexta-feira, 2 de abril de 2010
Assassina

Era uma dessas tardes de outono quando se tem frescor e um vento carregando as folhas secas. Trazia nas mãos o frio e no peito um tremor incerto. Não tinha a certeza do que iria fazer, mas algo em si movia-se lentamente na fração de segundo anterior que seu corpo cansado dava os passos. A mente estava ocupada por um vazio atônito ao que a face demonstrava apenas um leve enrugar por entre as sobrancelhas.
Era assim que tinha que ser.
Chegou à praça semi-deserta e lá estava ele: sentado de capa por entre as folhagens, apoiado na árvore. Trazia nas mãos o bater impaciente que guardava dentro do bolso. O horizonte era atravessado por seu olhar.
- Uma hora e meia.
Ela nada respondeu. Não havia do que se desculpar. Olhou para a copa da árvore, respirou fundo e agiu.
Assassina.
Assassina.
Assas... Repetia a si mesma. Havia matado seu amor. E este por sua vez não teve velório, enterro ou lágrimas. As flores já estavam secas porque era outono. Não deixou pertences ou tantas lembranças. Foi como se desintegrasse no ar.
Apenas deixou saudades vazias.
domingo, 28 de março de 2010
Brigadeiro (poema concreto)
As duas grandes necessidades da vida

A ilusão do amor é como a ilusão de Deus...
No começo te falam que ele existe. Daí você idealiza o mito, sonha sua infância inteira com a grandiosidade de coisas que são metafísicas. Sente-se sozinho e descobre que necessita dessas coisas as quais você não sabe explicar, e as define por Deus ou amor.
Você evolui, e a vontade de buscar as coisas metafísicas cresce com você. Você entende agora que essas coisas já não fazem mais sentido, e busca um sentido pra esse algo, pra que preencha essa desesperança que te invade.
Você encontra alguém que não te explica, mas te faz sentir o metafísico. Dá o nome disso de amor. E em certos períodos você sempre denomina isso como amor.
E você vive sua amadurecência inteira entre o lapso da razão e da esperança em crer em uma ou duas dessas coisas.
Você envelhece. E se antes descobriu a verdade, agora precisa redescobrir a mentira, para que a morte não se torne uma futura companheira assim tão insuportável...
A gente sabe que não, mas precisa explicar-se dessa maneira para que a vida não seja vista assim tão cruelmente, não seja assim tão dura.
Ou a pessoa acredita nas duas ilusões, ou pelo menos em uma delas, ou a vida se tornará amarga...
Afinal, como diz Caio Fernando Abreu...
“Os homens precisam da ilusão do amor da mesma forma que precisam da ilusão de Deus”
quarta-feira, 24 de março de 2010
O meu eu
Sim, eu sou introspectiva. Quem me vê assim jamais imagina principalmente duas coisas: A primeira é que (acredite ou não!) eu já fui muito mais extrovertida que a pessoa mais extrovertida que você já conheceu; a segunda é que eu sou muito mais liberal do que o amigo mais “brisado” que você tem.
O fato é que eu sou de diferentes formas, jeitos, personalidades. Mas isso não é assim sem lógica. O que acontece é que eu tenho o lado racional e o lado emocional ambos fortes, e eles então vivem uma briga interior da qual eu sou a vítima e a vilã.
Explico: meu lado racional é uma velha, só pisa em chão firme, é rebuscado, nostálgico, tem SEMPRE uma opinião e nunca a troca, tem alguns princípios em que acredita (e que são diferentes dos princípios de todas as outras pessoas, e são libertários também!) e os segue a risca, egoísta leve, inflexível, sistemático, decidido, insistente, e outras coisas mais.
Meu lado emocional é uma criança, totalmente impulsiva, simples, vive no mundo dos sonhos, nunca tem uma opinião certa, seus princípios são não ter princípios, muda a todo o momento, potentemente altruísta, desencanado, indeciso, flexível, mutável, ...
E nessas combinações eu sou de mil maneiras. O meu equilíbrio não é a metade de cada um, mas forma dois inteiros de si, o que o deixa desequilibrado. O meu equilíbrio não é metade, mas os dois opostos. Sou o sagrado e o profano, o anjo e o demônio, o bem e o mal, o sublime e o terreno, o dentro e o fora, a santa e a puta. Sou difícil de lidar e entender.
E por ser de diferentes formas, tenho vários pontos de vista, enxergo de outros ângulos que não os das pessoas comuns, e tenho facilidade em me colocar no lugar de qualquer outra pessoa/ser/coisa.
E as pessoas também me vêem de diferentes formas. Há quem diga que eu sou tímida, e há quem diga que não. Há quem diga que eu sou madura e mulher, e há quem diga que eu sou uma criança inocente e imatura. Há quem diga que eu sou um gênio e há quem diga que eu sou burra. Há quem diga que eu sou metida e há quem diga que eu sou absolutamente simples.
Esses dias uma das pessoas que mais me conhece me disse que às vezes acha que eu não sou/vivo nesse mundo. E na verdade é isso mesmo. Eu transito com facilidade por todos os lugares, do castelo mais alto a floresta mais obscura, e acabo por não me incluir em nenhum. Eu sou o tudo e o nada. Não sou daqui.
No entanto, se existe a tal missão, sei o que vim fazer aqui. Depois de anos de crise existencial, uma frase abriu minha mente “O ator não faz teatro para catequizar, mas para entender os seus questionamentos.” E era isso. A ciência e a arte: é assim que eu busco entender o lado racional e o lado emocional do mundo. Eu vim pra buscar, conhecer, entender, questionar.
As vezes eu tenho dificuldade em falar sobre mim e frequentemente sobre qualquer coisa que eu não tenha segurança. E as vezes eu tenho imensa facilidade em falar sobre mim e faço discursos imensos sobre o que eu tenho segurança. Mas eu tenho necessidade de comunicação, e quando não dá pra ser falada, ela é mil vezes mais escrita, mil vezes mais dita pelo olhar, gesto, expressa na minha face. Ou mesmo suspensa no ar, porque o que eu comunico às pessoas não chega a uma ínfima quantia do que eu penso.
As únicas coisas que permanecem são meu lado libertário e as minhas mudanças repentinas devido a essa eterna briga interior. Talvez a hora que alguém ler eu já tenha me arrependido de dizer coisas íntimas, talvez ninguém leia, e certamente ainda há muito mais o que eu gostaria de dizer. Uma frase resume tudo o que eu gostaria de dizer nesse momento:
Sou por fim uma contradição, um paradoxo de mim mesma.
O fato é que eu sou de diferentes formas, jeitos, personalidades. Mas isso não é assim sem lógica. O que acontece é que eu tenho o lado racional e o lado emocional ambos fortes, e eles então vivem uma briga interior da qual eu sou a vítima e a vilã.
Explico: meu lado racional é uma velha, só pisa em chão firme, é rebuscado, nostálgico, tem SEMPRE uma opinião e nunca a troca, tem alguns princípios em que acredita (e que são diferentes dos princípios de todas as outras pessoas, e são libertários também!) e os segue a risca, egoísta leve, inflexível, sistemático, decidido, insistente, e outras coisas mais.
Meu lado emocional é uma criança, totalmente impulsiva, simples, vive no mundo dos sonhos, nunca tem uma opinião certa, seus princípios são não ter princípios, muda a todo o momento, potentemente altruísta, desencanado, indeciso, flexível, mutável, ...
E nessas combinações eu sou de mil maneiras. O meu equilíbrio não é a metade de cada um, mas forma dois inteiros de si, o que o deixa desequilibrado. O meu equilíbrio não é metade, mas os dois opostos. Sou o sagrado e o profano, o anjo e o demônio, o bem e o mal, o sublime e o terreno, o dentro e o fora, a santa e a puta. Sou difícil de lidar e entender.
E por ser de diferentes formas, tenho vários pontos de vista, enxergo de outros ângulos que não os das pessoas comuns, e tenho facilidade em me colocar no lugar de qualquer outra pessoa/ser/coisa.
E as pessoas também me vêem de diferentes formas. Há quem diga que eu sou tímida, e há quem diga que não. Há quem diga que eu sou madura e mulher, e há quem diga que eu sou uma criança inocente e imatura. Há quem diga que eu sou um gênio e há quem diga que eu sou burra. Há quem diga que eu sou metida e há quem diga que eu sou absolutamente simples.
Esses dias uma das pessoas que mais me conhece me disse que às vezes acha que eu não sou/vivo nesse mundo. E na verdade é isso mesmo. Eu transito com facilidade por todos os lugares, do castelo mais alto a floresta mais obscura, e acabo por não me incluir em nenhum. Eu sou o tudo e o nada. Não sou daqui.
No entanto, se existe a tal missão, sei o que vim fazer aqui. Depois de anos de crise existencial, uma frase abriu minha mente “O ator não faz teatro para catequizar, mas para entender os seus questionamentos.” E era isso. A ciência e a arte: é assim que eu busco entender o lado racional e o lado emocional do mundo. Eu vim pra buscar, conhecer, entender, questionar.
As vezes eu tenho dificuldade em falar sobre mim e frequentemente sobre qualquer coisa que eu não tenha segurança. E as vezes eu tenho imensa facilidade em falar sobre mim e faço discursos imensos sobre o que eu tenho segurança. Mas eu tenho necessidade de comunicação, e quando não dá pra ser falada, ela é mil vezes mais escrita, mil vezes mais dita pelo olhar, gesto, expressa na minha face. Ou mesmo suspensa no ar, porque o que eu comunico às pessoas não chega a uma ínfima quantia do que eu penso.
As únicas coisas que permanecem são meu lado libertário e as minhas mudanças repentinas devido a essa eterna briga interior. Talvez a hora que alguém ler eu já tenha me arrependido de dizer coisas íntimas, talvez ninguém leia, e certamente ainda há muito mais o que eu gostaria de dizer. Uma frase resume tudo o que eu gostaria de dizer nesse momento:
Sou por fim uma contradição, um paradoxo de mim mesma.
segunda-feira, 15 de março de 2010
Poema aos Não-Efêmeros
Amor é fogo que arde ao se ver,
Sem que se veja.
Amor é chama que apaga,
Sem que se espere.
E da queima, resta-lhe as cinzas
E permanecem as partículas mais íntimas
Para que, se houver,
Chegada a hora
Renasça a fênix, a doce fênix
Com suas asas longas
Sujas de cinzas.
Feitas de cinzas.
E das partículas que não se acabam.
(Ou até que novo pássaro aponte no horizonte.)
Mas a constituição de cinzas é inevitável.
Tati Valença
Sem que se veja.
Amor é chama que apaga,
Sem que se espere.
E da queima, resta-lhe as cinzas
E permanecem as partículas mais íntimas
Para que, se houver,
Chegada a hora
Renasça a fênix, a doce fênix
Com suas asas longas
Sujas de cinzas.
Feitas de cinzas.
E das partículas que não se acabam.
(Ou até que novo pássaro aponte no horizonte.)
Mas a constituição de cinzas é inevitável.
Tati Valença
sexta-feira, 12 de março de 2010
Ah, o amor...
Dizem que, para se amar algo ou alguém, duas coisas são necessárias: A primeira é amar a si mesmo (diga-se: amar, e não idolatrar-se). A segunda é não depender da coisa amada, assim como um vício depende, porque para se viver um amor, os dois amores tem que se bastar.
Verdade ou mentira, esta é de fato a forma mais saudável de ter alguém ao seu lado. Mas para o amor não há formas ou fórmulas certas ou erradas. Há amor.
Quem inventar um dia um termômetro de sentimentos ficará rico, porque sentimento não se mede. Não há muito ou pouco. Ou se ama, ou não se ama. O resto é gostar, querer bem.
Mas errou quem disse que não se pode amar duas pessoas ao mesmo tempo. Um exemplo disso é que conseguimos amar os nossos pais e amigos sem que um amor interfira no outro.
O amor de amante (diga-se: ser que ama) acontece da mesma maneira. Há vários subtipos dele. A maioria dos tipos e minoria das ocorrências são aqueles inexplicáveis. Às vezes a gente ama e não sabe como, não sabe o porquê, não pode dizer o quanto. Às vezes a gente não sabe afirmar nem mesmo se é amor de verdade. Mas sentimos uma ligação profunda, um sentimento tão bonito, uma felicidade imensa só de pensar na pessoa. Existe esse sentir e pronto, é amor, por mais que não se admita, simplesmente é.
Mas o que difere o amor de todos os outros sentimentos é que, meio que contrariando Vinícius, ele não morre. E eu explico: quando a gente ama alguém, a partir do momento que se fala ou sinta verdadeiramente, não há como voltar atrás. É algo pra vida toda. Daí acaba a chama, o amor adormece, mas permanece ali guardado num cantinho, por mais escondido que esteja, ou por mais que tentemos enganar a nós mesmos. Pode-se sentir raiva, rancor, rejeição, culpa, ódio. Ele permanece.
Às vezes o mundo mudou tanto a pessoa que amávamos, que esta não existe mais, então o amor de amante que fica é por um passado. Mas o amor é mutável, e como tal, você permanece amando a nova pessoa de um jeito diferente. Mas ainda assim continua amando.
É assim que se ama várias pessoas ao mesmo tempo, e é por isso que devemos tomar muito cuidado ao dizer uma palavra tão forte assim para alguém, porque AMOR, VIDA e ETERNO andam juntos.
Como diz Saint-Exupéry...
“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.” (Saint-Exupéry)
Verdade ou mentira, esta é de fato a forma mais saudável de ter alguém ao seu lado. Mas para o amor não há formas ou fórmulas certas ou erradas. Há amor.
Quem inventar um dia um termômetro de sentimentos ficará rico, porque sentimento não se mede. Não há muito ou pouco. Ou se ama, ou não se ama. O resto é gostar, querer bem.
Mas errou quem disse que não se pode amar duas pessoas ao mesmo tempo. Um exemplo disso é que conseguimos amar os nossos pais e amigos sem que um amor interfira no outro.
O amor de amante (diga-se: ser que ama) acontece da mesma maneira. Há vários subtipos dele. A maioria dos tipos e minoria das ocorrências são aqueles inexplicáveis. Às vezes a gente ama e não sabe como, não sabe o porquê, não pode dizer o quanto. Às vezes a gente não sabe afirmar nem mesmo se é amor de verdade. Mas sentimos uma ligação profunda, um sentimento tão bonito, uma felicidade imensa só de pensar na pessoa. Existe esse sentir e pronto, é amor, por mais que não se admita, simplesmente é.
Mas o que difere o amor de todos os outros sentimentos é que, meio que contrariando Vinícius, ele não morre. E eu explico: quando a gente ama alguém, a partir do momento que se fala ou sinta verdadeiramente, não há como voltar atrás. É algo pra vida toda. Daí acaba a chama, o amor adormece, mas permanece ali guardado num cantinho, por mais escondido que esteja, ou por mais que tentemos enganar a nós mesmos. Pode-se sentir raiva, rancor, rejeição, culpa, ódio. Ele permanece.
Às vezes o mundo mudou tanto a pessoa que amávamos, que esta não existe mais, então o amor de amante que fica é por um passado. Mas o amor é mutável, e como tal, você permanece amando a nova pessoa de um jeito diferente. Mas ainda assim continua amando.
É assim que se ama várias pessoas ao mesmo tempo, e é por isso que devemos tomar muito cuidado ao dizer uma palavra tão forte assim para alguém, porque AMOR, VIDA e ETERNO andam juntos.
Como diz Saint-Exupéry...
“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.” (Saint-Exupéry)
quinta-feira, 4 de março de 2010
Espelho de concreto

.jpg)
Do homem moderno, são
As enxurradas de pensamentos instantâneos
Onde, fixamente, nos crânios
Se mantém a principal canção
Alva línea corre na paisagem
Nasce o espelho de concreto
Que, do sangue celeste pelo objeto
Elucida com cores a imagem
Do ponto, cuido
Para que não fuja
Encontro, desencontro, mente suja
Paralisado fica, o mundo mudo
No revezamento segue
A linha desenhada a carvão
Perdem tristes, mudos que são
Os passos do movimento leve
Ganharam já outras corridas
Mas pode ganho ser perda também
Tristes ficam, por ser mútua a ninguém
A busca por outras vidas
Enche, na forte batida vital
De esperança, a cada a postos
É jogo de opostos
Que termina na parada sub-mortal
De ocorrer, não há suicídios
Ou homicídios intencionais
Porque gélido dizem os canais
Termômetros sensíveis, dos
Findam inundações da gota essencial
Nos olhos e no firmamento
Finda esperança, caminho, busca, pensamento
Só não finda o sentir, sem ti, sentimental
Da questão, a solução é pedido:
Se ajudam as vozes agudas,
Por que, das rosas
O mudo clamor não é ouvido?
Tati Valença,
um de março de dois mil e dez.
As enxurradas de pensamentos instantâneos
Onde, fixamente, nos crânios
Se mantém a principal canção
Alva línea corre na paisagem
Nasce o espelho de concreto
Que, do sangue celeste pelo objeto
Elucida com cores a imagem
Do ponto, cuido
Para que não fuja
Encontro, desencontro, mente suja
Paralisado fica, o mundo mudo
No revezamento segue
A linha desenhada a carvão
Perdem tristes, mudos que são
Os passos do movimento leve
Ganharam já outras corridas
Mas pode ganho ser perda também
Tristes ficam, por ser mútua a ninguém
A busca por outras vidas
Enche, na forte batida vital
De esperança, a cada a postos
É jogo de opostos
Que termina na parada sub-mortal
De ocorrer, não há suicídios
Ou homicídios intencionais
Porque gélido dizem os canais
Termômetros sensíveis, dos
Findam inundações da gota essencial
Nos olhos e no firmamento
Finda esperança, caminho, busca, pensamento
Só não finda o sentir, sem ti, sentimental
Da questão, a solução é pedido:
Se ajudam as vozes agudas,
Por que, das rosas
O mudo clamor não é ouvido?
Tati Valença,
um de março de dois mil e dez.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Debaixo das Flores

Estava ela, como todos, absorta em pensamentos sobre o leito da clínica de recuperação, quando o estrondo do portão que bateu com força do lado de fora do quarto encaminhou-a para tristes lembranças. Tiro? Um olhar de medo tomou conta de sua face que tentava se esconder agora sob o leito. Diante do lençol entre suas mãos desvairava. Sangue... Ao seu redor havia olhares curiosos aos quais suplicava ajuda: “Chamem a ambulância, Andréia está ferida!”, mas estes não eram mais pedestres na rua, tampouco havia alguém em seus braços. A chegada do enfermeiro fez-la sorrir de esperança. Andréia está a salvo! À medida que aquele antídoto sonolento contra memórias trágicas percorria suas veias, retomava a consciência: Tarde demais, as belas flores não conseguiram esconder a feia tragédia. Não houvera mais nada a fazer.
Tati Valença
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Oásis

Sempre mantive um obscuro fascínio sobre a arte, sabia que ela saciava minha sede, mas ela sempre esteve fora do meu alcance. Eu mal sabia desenhar um coração...
Em dias chuvosos eu comprava um pacote de sulfites e pegava os velhos lápis de cor, assim pela metade, mal cuidados, e tentava exprimir-lhes um pouco do que dentro de mim havia. Saiam apenas borrões mal feitos, sombras longínquas do que eu realmente desejava expressar.
Comprei uma tela. Branca. Límpida. Ansiosa de alguém que lhe desse cores e formas múltiplas, que lhe imprimisse vida, construísse nela uma história com profundidade. Sujei-a com meus desgostos. Meus dedos lhe eram rabiscos fracos e sem nexo. Rabiscos toscos, sem significados. Sem vida.
Apareci um dia numa exposição de uma galeria de arte. E vivi a arte imunda e triste dos neoclássicos. Passava horas olhando sem prazer as velhas pinturas, e me impregnando de arte sem alma. Olhava traços marcantes e realistas que me levavam somente a minha melancólica realidade. E durante esses momentos eu chamava aquilo de arte, apreciava aquele estereótipo da realidade, frio e sujo.
Talvez algumas imagens nas telas remetessem a histórias significantes do pintor, mas eram vazias ao meu olhar.
Foi então que um dia o vento voou e veio parar em minhas mãos um convite de uma exposição surrealista. Meu primeiro ímpeto foi amassar e jogar no lixo. Amassei. E talvez pela minha incitante curiosidade, abri. Não joguei. Guardei. Chegou o dia. Disse não. Disse sim. E fui sozinha, com medo de me perder ainda mais na arte.
Naquele dia sem esperar eu encontrei. Encontrei as pinturas que muito diziam sobre mim. Encontrei o pintor. Visitei seu grandioso mundo e descobri meu lugar no seu. Ele me mostrou seu ateliê. Levou-me para dentro de si. Tomou-me nos braços e desenhou meu corpo radiante em sua tela. Era assim que ele me via, era assim que eu estava pela primeira vez. E fez de meu corpo a sua tela também. Desenhou em mim uma estrela que brilhava e explodia de forma e cores no nosso pequeno mundo.
Cheguei em minha casa e corri a tela suja. E sorrindo por ele, minhas mãos sabiam exatamente o que fazer. Aprendi a pintar. Pintei uma, duas, três, cem, mil estrelas e já não mais me reconhecia. Pintei nosso oásis surreal com meu cavalo protetor. Pintei nossa forma de amor. E eu podia morrer de pintar o que agora já era nosso universo.
Com ele, cada novo dia é uma nova estrela. Um pedaço do nosso universo descoberto. Um olhar profundo que só transborda felicidade.
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